quinta-feira, 7 de maio de 2015

Vamos Meditar



   Procure sempre fazer sua pratica de meditação no mesmo horário. Se for pela manhã, sugiro não praticar na cama. A cama é um lugar onde você foi condicionado, na vida inteira, a ficar em silencio e depois dormir, provavelmente, se você tiver seu momento de silencio aí, vai cair no sono novamente. É fundamental sair da cama e se movimentar.

  Siga sua rotina diária de higiene antes da pratica. Lave o rosto, escove os dentes, assim você terá menos distrações. Em quanto arruma o espaço se hidrate, beba um pouco de agua, chá ou até mesmo café, se estiver acostumado.

   Escolha um lugar na sua casa onde você sempre passará o seu momento de silencio. Sugiro que seja um lugar tranquilo, converse com seus familiares para que aquele espaço seja respeitado durante sua pratica. Explique que é um momento de silencio e não seria bom ser interrompido. Qualquer que seja o lugar, na sala, no porão, faça questão que todos respeitem o seu espaço de silencio naquele determinado momento.

  O lugar deve estar limpo e arrumado, e, na verdade, a primeira coisa que fazemos quando chegamos é limpar um pouco, tirar o pó ou arrumar. Mesmo que o lugar já esteja limpo fazemos isso, porque faz com que nos movimentemos inclinando o corpo, movimentando os braços. Desligue o seu celular, feche a porta, tenha certeza que esse momento será só seu. Sua pratica inicia quando você se prepara para ela, por isso, enquanto arruma o lugar, mantenha sua mente atenta. Enquanto limpa o lugar, imagine uma limpeza sendo feita nos seus negócios, na sua vida, na sua mente. Crie um habito de manter a mente atenta nos afazeres mais simples do dia. Estando realmente calmo e arrumado, o lugar ajudará a sua mente a se acalmar.

     A meditação comporta duas etapas:

  - a calma mental, SHINE.
  - a visão superior, LHAKTONG.

   Também podemos considerar que a união do shine e lhaktong constitui uma terceira etapa.

A Postura

 Segundo Bokar Rimpoche, devemos, em primeiro lugar, adotar uma postura física que favoreça a meditação. O movimento do corpo provoca, com efeito, a agitação dos ventos sutis que, ela própria, causa a agitação da mente. O termo tibetano shine decompõe-se assim: SHI- pacificar, NE- permanecer. Isso quer dizer que "pacificamos" o corpo, a palavra e a mente e que "permanecemos" sesse estado pacificado.

  A postura é importante, pois ela permite que os canais de energia estejam alinhados. Quando eles nãos o estão, os ventos sutis circulam mal, o que favorece a agitação mental.

Os Sete Pontos da Postura

1-      As pernas são cruzadas na postura do vajra, popularmente conhecida como lótus, exceto que colocamos inicialmente o pé esquerdo sobre a coxa direita, depois o pé direito sobre a coxa esquerda. Se não podemos adotar essa postura, fazemos aquela dita como do Bodhisatva, o pé esquerdo contra o períneo, o pé direito colocado à frente.

2-      Posicionamos as mãos no mudra da meditação, a mão direita sobre a mão esquerda.

3-      Mantemos a coluna bem ereta.

4-      Os ombros ficam relaxados, mas levemente projetados para trás.

5-      Recuamos um pouco o queixo.

6-      A ponta da língua fica entre os dentes de cima e o céu da boca.

7-      Olhamos para o vazio, em oblíquo para baixo, os olhos fixos sobre um ponto virtual que estaria a oito dedos de largura à frente da ponta do nariz.

 Essa postura é denominada "postura de Vairocana de sete pontos". Ela é considerada como a mais favorável à circulação harmoniosa dos ventos sutis.

Lembre-se que essa é apenas uma pequena orientação para sua prática, o acompanhamento de um professor qualificado é indispensável para o seu progresso.



quarta-feira, 6 de maio de 2015

Um Pouco Mais Sobre a Meditação



  A psicologia budista tradicional dá ênfase à importância da experiência direta no trabalho psicológico. Quando se conta somente com a teoria, perde-se algo de essencial. Do ponto de vista budista, o estudo da teoria é apenas o primeiro passo e deve ser complementado por um aprendizado da experiência direta da própria mente, em si mesmo e nos outros.

  Na tradição budista, esse aspecto experimental é desenvolvido com a pratica da meditação, que é uma observação da mente, em primeira mão. A meditação não é, no budismo, uma pratica religiosa, mas um meio de esclarecer a natureza real da mente e da experiência. Diz-se tradicionalmente que o aprendizado da meditação envolve três aspectos: SHILA (disciplina), SAMADHI (a pratica da meditação propriamente dita) e PRAJNA (insigth).

   SHILA é o processo de simplificar a vida como um todo e eliminar complicações desnecessárias. Para desenvolver uma disciplina mental genuína é necessário, em primeiro lugar, compreender como nos sobrecarregamos o tempo todo de atividades e preocupações que não são alheias. Nos países budistas, o shila pode exigir que se siga uma regra de vida especifica, como monge ou monja, ou adotar os preceitos adequados a um budista leigo. No contexto secular ocidental, o shila pode tornar necessário simplesmente o cultivo de uma atitude de simplicidade em relação à própria vida em geral.

   Em segundo lugar, vem o SAMADHI ou meditação que é o cerne do aprendizado budista derivado da experiência. Essa pratica envolve sentar-se com a atenção voltada, de modo suave e consciente, para a respiração.

   Em seguida, a disciplina da pratica da meditação envolve notar quando a atenção se desviou da respiração e faze-la retornar à respiração como foco. Adota-se uma atitude de atenção pura aos diversos fenômenos, como pensamentos, emoções, que ocorrem na mente e no corpo durante a pratica. Pode-se considerar a pratica da meditação como um modo de fazer amizade consigo mesmo, o que salienta o fato que ela é uma experiência de não agressão. Na verdade, a pratica da meditação é, portanto, um modo de experimentar o nosso ser essencial que está além dos padrões habituais.

   O shila é a base da meditação e o samadhi é o próprio percurso da pratica. A fruição é o prajna, ou o insigth que se começa a desenvolver por meio da meditação. Na experiência do prajna começa-se a perceber de modo direto e concreto como a mente realmente funciona, seus mecanismos e reflexos, momento a momento. Por tradição, o prajna  é chamado de consciência discriminante, o que não significa discriminar no sentido de desenvolver preconceitos. O prajna é, ao contrario, um conhecimento sem preconceitos de nosso mundo e de nossa mente. É discriminante no sentido de discernir a confusão e as neuroses.

   O prajna é um insigth imediato e não conceitual, mas ao mesmo tempo proporciona a inspiração básica do estudo intelectual. Quando vemos a realidade de nosso funcionamento mental surge um desejo natural de elucidar e articular a experiência pela qual passamos. E há uma curiosidade espontânea sobre o modo como outros já expressaram a natureza e o funcionamento da mente. Mas, ao mesmo tempo, embora o insigth imediato leve ao estudo é necessário manter uma disciplina permanente de treino da meditação. Com isso, os conceitos nunca se tornam meros conceitos, e o trabalho psicológico permanece sempre vivo, renovado e bem fundamentado.


   Chogyam Trungpa Rimpoche


O Caso Especial dos Pensamentos Desagradáveis



"Não importa qual pensamento ocorrer, não tente pará-lo."
-9°Gyalwang Karmapa

   "Especialmente se a meditação for uma prática nova para você, pode ser muito difícil observar os pensamentos relacionados a experiências desagradáveis, em particular aquelas relacionadas a emoções fortes, como ciúmes, raiva, medo ou inveja, com pura atenção.

   Esses pensamentos desagradáveis podem ser tão fortes e persistentes que é fácil prender-se a eles e ceder à tentação de segui-los. Não tenho dedos o suficiente para contar o número de pessoas que conheci que discutiram esse problema comigo, especialmente se os pensamentos que elas vivenciam se relacionam com brigas que tiveram com alguém em casa, no escritório ou em outro lugar e que elas não conseguem esquecer.

    Dia após dia, suas mentes retornam às ideias que elas relacionam ao que foi dito e feito e elas se veem presas pensando em como a outra pessoa foi horrível, no que elas poderiam ou deveriam ter dito ou feito na hora e o que elas gostariam de fazer para se vingar.

    A melhor forma de lidar com esse tipo de pensamento é distanciar-se e repousar sua mente no "Shine" ( Pratica de meditação também conhecida como "Calma Mental") sem objetivo por um minuto e então direcionar a atenção para cada pensamento e as ideias que revolvem em torno dele, observando-os diretamente por alguns minutos, da mesma maneira como você observaria a forma ou a cor de algo. Permita-se alternar entre repousar a sua mente na meditação sem objeto e conduzir sua atenção de volta aos mesmos pensamentos.

   Quando você trabalha com pensamentos negativos dessa forma, duas coisas ocorrem. (Não se preocupe: nenhuma delas envolve chifres crescendo!) Primeiro, à medida que você repousa na consciência, sua mente começa a se acalmar. Segundo, você descobrirá que sua atenção a pensamentos ou historias especificas vem e vai, da mesma forma que ocorre quando você está trabalhando com formas, sons e outros suportes sensoriais. E, à medida que esse pensamento ou historia é interrompido por outras questões- como estender as roupas lavadas, fazer compras ou preparar uma refeição-, as ideias desagradáveis gradualmente perdem força em sua mente.

   Você começa a perceber que elas não são sólidas ou poderosas como pareciam no começo. É como um sinal de ocupado ao telefone- irritante, talvez, mas nada com o qual você não consiga lidar.

   Quando você trabalha com pensamentos desagradáveis dessa forma, eles se tornam vantagens à estabilidade mental em vez de desvantagens- como adicionar peso na barra quando você está se exercitando em uma academia de ginastica. Você está desenvolvendo os músculos psicológicos para lidar com níveis maiores de estresse."


Trecho do livro "A Alegria de Viver" de Yongey Mingyur Rimpoche. Editora Elsevier, Campus. Pag. 170 e 171.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Uma Orientação para a Pratica da Meditação



A concentração

     Não concentre demais, prendendo-se as palavras e detalhes, pois cada vez que entender uma coisa, esquecerá a anterior e nunca compreenderá o todo.    
     Concentração demais traz sonolência, em vez disso, mantenha um equilíbrio entre estar tenso e relaxado.
     Uma vez, Ãnanda estava ensinando Srona a meditar. Snona estava com muita dificuldade em entender. Às vezes ele ficava muito tenso e às vezes muito relaxado. Srona foi falar sobre o assunto com o Buddha, que perguntou:

      - No passado você era um bom tocador de vina, não era?
      - Sim, eu tocava muito bem.
      - A sua vina tinha um som melhor quando as cordas estavam bem frouxas ou quando estavam bem esticadas?

      - Elas soavam melhor quando não estavam nem muito frouxas nem quando estavam muito esticadas.
    - O mesmo acontece com a sua mente, disse o Buddha, praticando com esse conselho Srona atingiu seu objetivo.

"Não deixe sua mente ficar muito tensa ou muito concentrada internamente. Deixe os sentidos naturalmente tranquilos, equilibrados entre a tensão e o relaxamento."

 Leia também o  "O Caso Especial dos Pensamentos Desagradáveis"

O Pai do Lua Formosa



      Havia um homem que encontrou um grande monte de cevada. Ele pôs tudo em um saco, amarrou-o à trave do telhado, deitou debaixo do saco e começou a imaginar.

     "Essa cevada vai me deixar muito rico", pensou. "assim que ficar rico, conseguirei uma linda esposa... e ela me dará um menino como filho... Que nome darei a ele?"

     Naquele exato momento a lua nasceu e ele decidiu dar o nome ao filho, que existia apenas em seu sonho, de Lua Formosa. Enquanto isso, um rato ia roendo a corda que prendia o saco que estava preso na trave do telhado.  De repente, a corda se partiu e o saco caiu sobre o homem e ele morreu.

   Ficar sonhando com o futuro pode trazer grandes sofrimentos. Ficar fantasiando coisas que irei fazer se outra coisa acontecer é apenas distração e nos tiram do aqui agora.

Ser vigilante dos nossos pensamentos, escutar com atenção e cuidado, avaliar e agir é a única coisa que temos que fazer.