Existem três emoções aflitivas, também chamadas de os três venenos:
apego, raiva e ignorância. A ignorância é a causa-raiz da existência do
Samsara. A ignorância obscurece a consciência clara da mente de ver o papel de
causa e efeito e a natureza última de todos os fenômenos. Isto significa que
não conseguimos ver e entender a lei da interdependência de todos os fenômenos,
as causas grosseiras e sutis e seus efeitos. Como resultado, todos os fenômenos,
e de modo especial a própria pessoa, são percebidos como permanentes, únicos e
reais. Devido a isso, surge o apego a si mesmo e as coisas de que gostamos. Qualquer
coisa que vá contra isso recebe a nossa aversão e nos tornamos muito
defensivos. Esforçamo-nos constantemente nesse reino sem fim.
Neste dimensão, não
importa o quanto tentemos, não há como alcançar ou experimentar a felicidade
absoluta. Essas emoções perturbadoras foram internalizadas por tanto tempo, as
sementes das propensões inveteradas cresceram tanto, que sentimos que elas são
naturais. Elas surgem sem esforço quando encontramos as condições adequadas. O
que quer que pensemos nós fazemos. Nutrimos e alimentamos esta manifestação
incessantemente.
Dependendo da
qualidade da mente criamos diferentes reinos e manifestamos todas as diferentes
emoções aflitivas. Mas, na realidade, estas manifestações são apenas
impermanentes- como um sonho ou uma bolha de sabão. Para nos libertarmos e purificarmos os três venenos
devemos conhecer a natureza impermanente de todos os fenômenos como antídoto
para o apego, e reconhecer o estado de sofrimento de todos os seres sencientes
como antidoto para a aversão. O karma e seu resultado proporcionam um antidoto
que libera a ignorância.
O apego é uma
emoção aflitiva da qual é muito difícil alcançar a liberação. Ele está enraizado
nas nossas mentes. E, a partir dele, o desejo e a fixação surgem. A
contemplação da impermanência é um dos métodos mais efetivos para liberar o
apego transitório. Quando contemplamos a natureza momentânea de todos os fenômenos a forma ou objeto específicos aos quais estamos apegados mudam. A forma
como nos relacionamos com o objeto não existe mais, assim não há sentindo ou
beneficio em permanecermos apegados. Como o orvalho sobre uma folha de grama,
ele se evapora como uma ilusão. Em vez de ficarem aborrecidos ou preocupados
com isso, apenas vejam isso como a verdadeira natureza daquele fenômeno.
Aceitem a mudança e permitam que ela aconteça. Liberem apego.
Antes de realizarem
o Mahamudra de suas próprias mentes, a prática da impermanência deve ser usada
como uma forma muito efetiva de liberar o apego e a raiva. O progresso, então,
torna-se fácil porque todos os fenômenos são impermanentes- apenas contemplem e
sustentes a consciência disto, relembrando constantemente. Vivam o momento a
momento. Quando possuímos a consciência plena da impermanência a realização do
Mahamudra não é tão difícil, porque compreender a natureza mais sutil da impermanência
é o mesmo que realizar o Mahamudra.
Gampopa.