quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Impermanência



   Existem três emoções aflitivas, também chamadas de os três venenos: apego, raiva e ignorância. A ignorância é a causa-raiz da existência do Samsara. A ignorância obscurece a consciência clara da mente de ver o papel de causa e efeito e a natureza última de todos os fenômenos. Isto significa que não conseguimos ver e entender a lei da interdependência de todos os fenômenos, as causas grosseiras e sutis e seus efeitos. Como resultado, todos os fenômenos, e de modo especial a própria pessoa, são percebidos como permanentes, únicos e reais. Devido a isso, surge o apego a si mesmo e as coisas de que gostamos. Qualquer coisa que vá contra isso recebe a nossa aversão e nos tornamos muito defensivos. Esforçamo-nos constantemente nesse reino sem fim.

   Neste dimensão, não importa o quanto tentemos, não há como alcançar ou experimentar a felicidade absoluta. Essas emoções perturbadoras foram internalizadas por tanto tempo, as sementes das propensões inveteradas cresceram tanto, que sentimos que elas são naturais. Elas surgem sem esforço quando encontramos as condições adequadas. O que quer que pensemos nós fazemos. Nutrimos e alimentamos esta manifestação incessantemente.

   Dependendo da qualidade da mente criamos diferentes reinos e manifestamos todas as diferentes emoções aflitivas. Mas, na realidade, estas manifestações são apenas impermanentes- como um sonho ou uma bolha de sabão. Para nos libertarmos e purificarmos os três venenos devemos conhecer a natureza impermanente de todos os fenômenos como antídoto para o apego, e reconhecer o estado de sofrimento de todos os seres sencientes como antidoto para a aversão. O karma e seu resultado proporcionam um antidoto que libera a ignorância.

   O apego é uma emoção aflitiva da qual é muito difícil alcançar a liberação. Ele está enraizado nas nossas mentes. E, a partir dele, o desejo e a fixação surgem. A contemplação da impermanência é um dos métodos mais efetivos para liberar o apego transitório. Quando contemplamos a natureza momentânea de todos os fenômenos a forma ou objeto específicos aos quais estamos apegados mudam. A forma como nos relacionamos com o objeto não existe mais, assim não há sentindo ou beneficio em permanecermos apegados. Como o orvalho sobre uma folha de grama, ele se evapora como uma ilusão. Em vez de ficarem aborrecidos ou preocupados com isso, apenas vejam isso como a verdadeira natureza daquele fenômeno. Aceitem a mudança e permitam que ela aconteça. Liberem apego.

   Antes de realizarem o Mahamudra de suas próprias mentes, a prática da impermanência deve ser usada como uma forma muito efetiva de liberar o apego e a raiva. O progresso, então, torna-se fácil porque todos os fenômenos são impermanentes- apenas contemplem e sustentes a consciência disto, relembrando constantemente. Vivam o momento a momento. Quando possuímos a consciência plena da impermanência a realização do Mahamudra não é tão difícil, porque compreender a natureza mais sutil da impermanência é o mesmo que realizar o Mahamudra.



Gampopa.