Quando participei do meu primeiro retiro budista, o meu
maior desafio foi a prática do “Nobre Silêncio”. Tinha mais ou menos trinta
pessoas fazendo o retiro e não podia dar nem uma palavra, linguagem de sinal ou
tipo de comunicação. Apenas eu e minha mente. Um verdadeiro desafio sendo que o
silêncio, para mim naquela época, não existia nem durante o sono...
A vontade de falar, conversar, foi sempre um
suporte para minha mente ficar pulando de um lado para o outro sem destino ou
objetivo. Esse estado mental era tão comum para mim que quando o percebi pela
primeira vez fiquei impressionado com as minhas oscilações de desejos e dores que
iam e vinham a todo o momento.
Esse foi o grande
desafio durante todos os retiros que eu fazia no inicio da minha jornada, mas
com o tempo, naturalmente as coisas foram mudando. Foi tão natural que nem eu
percebi a mudança. Naturalmente comecei a tirar alguns momentos do dia para ficar
comigo mesmo. Além das minhas práticas matinais de meditação, procurei a
observar cada vez mais a minha mente e com isso o silêncio vinha de maneira
natural.
Comecei a tirar um sábado
por mês para fazer o meu próprio retiro. Para mim o sábado era um dia tranquilo
e ainda sobrava o domingo para me dedicar aos amigos e familiares, assim, não “perdia”
o final de semana.
A rotina era bem simples, o dia iniciava às 5
horas. Acordava, fazia minhas necessidades matinais e sentava para fazer Shine.
Ficava mais ou menos 2 horas.
Depois tomava
banho, tomava o meu café da manhã, lavava a louça e voltava para mais uma
sessão de Shine. Só que essa mais curta, uma hora. No mesmo lugar onde fazia
minha pratica eu estudava algum ensinamento. Você pode também ler algum
livro...
Antes do almoço, uma
hora de Shine. Você deve coordenar o tempo de acordo com sua disponibilidade. Na
hora do almoço, se já estiver tudo pronto ou mesmo que tenha que preparar algo,
prepare a sua refeição dando atenção no que faz. Procure manter sua mente no
momento, tudo que fizer faça consciente, não faça as coisas por fazer, no tipo “fazer
no piloto automático.” Preste atenção, observe como você fica ao estudar,
andar, observe como está a sua mente. Observe como mastiga o alimento, saboreie
a comida... Você não tem pressa.
Evite conversar
nesse dia. Avise seus parentes mais próximos e pessoas de convívio diário que
ficará um dia em silêncio, desligue o telefone nesse dia. Sei que deve ser
estranho isso, mas você não vai acreditar como um dia sem celular muda o seu
estado de humor.
Mas também não vai
adiantar nada desligar o celular e ficar pensando em quem está te procurando.
Não pode ter sofrimento para o verdadeiro desapego. Caso sinta uma grande
vontade, ligue o celular, veja que nada mudou e desligue-o. Com o tempo a
necessidade de estar com o celular vai diminuindo.
Determine um horário
para acabar o seu pequeno retiro do Nobre Silêncio. Eu sempre iniciava às 5 da
manhã e finalizava às 10 da noite. Mas mesmo depois de acabar, procurava falar
com alguém só no outro dia. Deitava em silêncio, com a mente calma, dormia com
uma paz inexplicável. No outro dia, depois do café da manhã é que eu falava com
alguém.
Sugiro você começar devagar.
Escolha um dia tranquilo, uma vez por mês, faça apenas algumas horas de silêncio
no inicio. Ou quem sabe metade de um dia. A solidão interior, o Nobre Silêncio
são formas de esvaziar, limpar, curar e renovar o coração e a mente. Esta é uma
maneira voluntaria de começar o processo de simplificação pessoal. A paz vai
ajuda-lo a purificar suas percepções e tornar sua mente mais aguda, clara, espaçosa
e até mesmo luminosa.
Boa prática!