A fala Correta nos
lembra que devemos evitar causar problemas, dizendo algo que possa ferir ou
interferir desnecessariamente. Você já teve a experiência de dizer alguma coisa
e depois se arrepender? Ou dizer alguma coisa sarcástica que lhe parecia
engraçada? Claro. Todos já tivemos essa experiência. Quando comecei a ensinar,
percebi logo que se dissesse o que me parecia apenas uma pequena piada irônica,
alguma alma mais sensível acabaria se sentindo ferida, ridicularizada, exposta
ou traída.
Um dos aforismos do
treinamento mental, Lo-Jong, é “Não Mencione Membros Machucados”. É um bom
aforismo, que nos lembra que aquilo que consideramos apenas uma piada pode
expor o defeito ou a fraqueza do outro, mais ou menos como apontar o dedo e
ficar olhando. E isto fere, apesar de ser apenas parte de uma brincadeira.
Entretanto, como é difícil fazer isto! Que tentação sentimos algumas vezes em
fazer piadas ou mostrar como somos engraçados ou espertos, com nossas línguas ferinas
e nosso humor cáustico. Palavras que ferem reforçam a alienação pessoal e a
visão dualista. A calúnia semeia a discórdia, mas a fala gentil e sensível traz
a paz e reconciliação.
O Dharma também nos
lembra que o ato de julgar encobre a visão elevada e distorce a apreciação de
como as coisas realmente são. No novo testamento, Jesus mostra como insistimos em
ver o pequeno cisco no olho do outro, enquanto ignoramos um enorme tranco de
madeira enfiado no nosso. Um proverbio tibetano diz: “Não fale da pulga no
cabelo do outro, enquanto ignora o iaque no seu nariz.” Palavras de julgamento
e de critica, emitidas em um tom virtuoso, jamais foram úteis, em nenhuma
situação.
Algumas pessoas
parecem ter um talento especial para usar as palavras de forma a ajudar os
outros. São tão construtivas, positivas e empáticas que nós nos sentimos bem a
cada vez que falamos com elas. “Que bom para você”, dizem elas. “Conte-me sobre
isso, quero ouvir o que tem a dizer.” Captamos a intenção de apoiar e de
encorajar. Estes gênios da comunicação parecem ter um dom especial, conseguem
realmente enxergar e escutar os outros. Por estarem abertos e sensíveis à experiência
dos outros, estes ouvintes talentosos são curadores natos. Ouvir com o coração
aberto e sem julgamentos é uma forma de inserir a Bodhiccita na comunicação. O
Dharma nos diz que se ouvirmos com atenção, conseguiremos perceber o Budha
natural em todas as pessoas.