quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

O Mantra Da Compaixão


    O mantra da compaixão, OM MANI PADME HUM, é pronunciado pelos tibetanos OM MANI PEME HUNG. Ele encarna a compaixão e a benção de todos os Budhas e Bodhisatvas, e invoca especialmente a benção de Avalokiteshvara, o Budha da Compaixão. Avalokiteshvara é uma manifestação do Budha no Sambhogakaya, e seu mantra é considerado a essência da compaixão do Budha por todos os seres. Assim como Padmasambhava é o mestre mais importante do povo tibetano, Avalokitesshvara é o seu Budha mais importante e a deidade cármica do Tibete. Há um dito famoso que dia que o Budha da Compaixão está tão irraigado na consciência tibetana que qualquer criançaque saiba dizer “mãe” sabe também recitar o mantra OM MANI PEME HUNG.

   Conta-se que, há inumeráveis eras, mil príncipes juraram tornar-se Budhas. Um deles quis tornar-se o Budha que conhecemos Sidarta Gautama. Avalokiteshvara, no entanto, prometeu não obter a iluminação até que todos os outros mil príncipes a tivesse conseguido. Na sua infinita compaixão, ele também fez o voto de liberar todos os seres sencientes do sofrimento dos vários reinos do Samsara. Diante dos Budhas das dez direções, ele rezou: “Possa eu ajudar todos os seres, e se alguma vez cansar nesse trabalho imenso, possa o meu corpo ser despedaçado em mil partes”.  

   Conta-se que primeiro ele desceu aos infernos, subindo gradualmente através do mundo dos fantasmas famintos até o reino dos deuses. De lá olhou para baixo e viu horrorizado que, embora tivesse salvo inúmeros seres do inferno, incontáveis outros estavam caindo lá. Isso o deixou na mais profunda dor.  Por um instante ele quase perdeu a fé no seu nobre voto, e seu corpo explodiu em mil pedaços. Em desespero, pediu ajuda a todos os Budhas, que vieram em sua direção de todos os recantos do universo como uma suave tempestade de neve com seus flocos brancos, segundo diz um texto.

    Com seu grande poder, os Budhas deixaram-no inteiro de novo, e a partir de então avalokiteshvara tem onze cabeças e mil braços, e em cada palma das mil mãos tem um olho, significando a união da sabedoria e dos meios hábeis- marca da verdadeira compaixão. Nessa forma ele ficou ainda mais resplandecente e poderoso do que antes para ajudar todos os seres, e sua compaixão aumentou de intensidade com a continua repetição de seu voto diante dos Budhas: “Possa eu não obter o estado búdico supremo antes que todos os seres sencientes alcancem a iluminação”.

   Conta-se ainda que, em sua tristeza pela dor do Samsara, duas lágrimas caíram do seu rosto: pela bênção dos Budhas elas se transformaram nas duas Taras. Uma é a Tara em sua forma verde, que á força ativa da compaixão, e a outra é Tara em sua forma branca, que é o aspecto materno da compaixão. O nome Tara significa “aquela que liberta”: a que nos transporta através do oceano do Samsara.

   Está escrito nos sutras do Mahayana que Avalokiteshvara deu seu mantra ao próprio Budha, que em troca lhe deu a nobre e especial tarefa de ajudar todos os seres do universo no caminho para o estado búdico. Nesse mometo, todos os deuses fizeram chover flores sobre eles, a terra estremeceu e no ar ressoou o som de OM MANI PEME HUM HRIH.

   Nas palavras do poema:

 Avalokiteshvara é como a lua                                                                                               Cuja luz refrescante apaga os fogos ardentes do Samsara.      
Em seus raios o lótus noturno da compaixão                
Abre todas as pétalas.
 

   Os ensinamentos explicam que cada uma das seis sílabas do mantra- OM MANI PEME HUNG- tem um efeito poderoso e especifico para produzir transformações em níveis diferentes do nosso ser. As seis sílabas purificam por completo as seis emoções negativas, que são a manifestação da ignorância e que nos fazem agir negativamente com o nosso corpo, fala e mente, criando desse modo o Samsara e nosso sofrimento nele. Orgulho, ciúme, desejo, ignorância, ganancia e ódio são transformados pelo mantra na verdadeira natureza de cada um deles: as sabedorias das seis famílias búdicas que se tornam manifestas na mente iluminada.

   Assim, quando recitamos OM MANI PEME HUNG, as seis emoções negativas que são a causa dos seis reinos do Samsara, são purificadas. Desse modo, recitar as seis sílabas previne o renascimento em cada um desses seis reinos, e também dissolve o sofrimento inerente de cada reino. Ao mesmo tempo, a recitação OM MANI PEME HUNG purifica os agregados do ego- os skandhas- e aperfeiçoa os seis tipos de ação transcendental do centro da mente iluminada, as paramitas: generosidade, conduta harmoniosa, perseverança, entusiasmo, concentração e visão interior. Também se diz que OM MANI PEME HUNG assegura forte proteção contra todo tipo de influencia negativa e várias formas diferentes de doença.

   Com frequência, HRIH, a “sílaba-semente” de Avalokiteshvara, é acrescida ao mantra para fazer OM MANI PEME HUNG HRIH. Essencia da compaixão de todos os Budhas, HRIH é o catalisador que ativa a compaixão dos Budhas para transformar  nossas emoções negativas na sua natureza de sabedoria.

   Kalu Rimpoche escreve:

   Outro modo de interpretar o mantra considera que a sílaba Om é a essência da forma iluminada. MANI PEME, as quatro silabas do meio, representam a fala da iluminação. A última sílaba, HUNG, representa a mente da iluminação. O corpo, a fala e a mente de todos os Budhas e Bodhisatvas são parte intrínseca do som desse mantra. Ele purifica os obscurecimentos do corpo, da fala e da  mente, e traz todos os seres ao estado de realização. Quando se junta à nossa própria fé e aos nossos esforços na meditação e recitação, o poder transformador do mantra aparece e aumenta. É verdadeiramente possível purificarmos desse modo.

   Para aqueles que estão familiarizados com o mantra e o recitaram com fervor e fé toda sua vida, o Livro Tibetano dos Mortos ora no bardo: “Quando o som do Dharma ruge como mil trovões, possa todo ele se tornar o som das seis silabas”. Da mesma forma lemos no Surangama Sutra:

   Como é doce e misterioso o som transcendental de Avalokiteshvara! É o som primordial do universo... É o murmúrio suave da maré vazante. Seu som misterioso traz a libertação e a paz a todos os seres sencientes que em sua dor estão pedindo ajuda, e traz a sensação de serena estabilidade aos que estão buscando a paz ilimitada do Nirvana.
                                           







Do Livro “ O Livro Tibetano do Viver e do Morrer”, Sogyal Rimpoche. Pags. 482, 483, 484 e 485.