O Sutra do Coração é considerado um dos ensinamentos mais
profundos do budismo Mahayna e também do budismo Vajrayana. A tradição
Vajrayana – na qual se insere a Linhagem Drukpa tem suas origens no Mahayana, e
é importante observar que seus ensinamentos não existem de modo independente
das práticas Mahayanas de bodhichita, a mente altruística de iluminação, e da Prajna
Paramita, a Perfeição da Sabedoria. Bodhicitta se refere so elemento de
compaixão, e Prajna Paramita ao elemento de sabedoria das tradições Mahayana e
Vajrayana.
Deixando de lado os
métodos hábeis do Vajrayana, não existe o caminho Vajrayana na ausência da
fundação do Mahayana. Assim, o Sutra do Coração que encapsula os ensinamentos da
Prajna Paramita, e muito respeitado nas praticas do Vajrayana. O sutra do
Coração representa a visão da sabedoria última. As praticas baseadas nessa
visão representam a compaixão – o método- dentro do Vajrayana.
Compaixão e
Sabedoria são os dois ensinamentos essenciais do Mahayana e do Vajrayana, e são
colocadas em pratica por meio de métodos hábeis. Sem compaixão e sabedoria, não
existe Mahayana e nem Vajrayana. Por isso, compaixão e sabedoria são
consideradas as duas asas do Mahayana e do Vajrayana. E você não pode ter uma
asa sem ter a outra.
Se praticar apenas
a compaixão, você poderá ficar muito feliz e calmo dentro do Samsara, mas
jamais atingirá a libertação, porque não possui a sabedoria para perceber o Samsara como ele realmente é. Por outro lado, se possuir apenas a sabedoria,
você poderá se liberar, mas isso só servirá para você mesmo e não para o
beneficio dos outros seres.
Colocando em termos
bem claros: se você não tiver compaixão, não terpa interesse em ajudar ninguém.
Estará interessado apenas em si mesmo. Por outro lado, se não tiver sabedoria,
não saberá como ajudar os outros mesmo que tenha a intenção. Isso porque você
está sofrendo e não possui sabedoria para oferecer o tipo de ajuda de que os
outros necessitam. A ajuda que você pode oferecer talvez seja alimento de
dinheiro, mas indo além disso, se alguém estiver mentalmente infeliz, você não
poderá ajudar. Isso porque você não sabe como lidar consigo mesmo e com as suas
emoções. Você não consegue entender a verdadeira natureza dos fenômenos e a verdadeira
natureza de sua mente.
Embora andem lado a
lado, compaixão e sabedoria às vezes são praticas separadamente no Mahayana. Por
exemplo, quando você realiza a recitação ou a pratica de generosidade no
Mahayana, não é necessário que visualize como um Budha, tampouco que tenha
entendimento da vaziez. Assim, quando está praticando a generosidade e
oferecendo aos outros, você ainda pode ter pensamento de “eu” de “estou dando algo
outro ser senciente que está sofrendo”. Você está doando, mas sem a
compaixão ou o entendimento perfeitos. E quando pratica a meditação
unidirecional que investiga a vaziez, você pode analisar a natureza operacional
da mente, mas pode deixar de gerar a compaixão de forma adequada enquanto
medita. Logo, a compaixão e a sabedoria são praticadas separadamente.
Algumas práticas do
Vajrayana também funcionam assim. Mas na maioria das praticas do Vajrayana, a
compaixão, através dos meios hábeis, e a sabedoria, através do entendimento de
shunyata (vaziez), são praticadas em conjunto. Shunyata se refere ao
entendimento de que isso nada no universo existe de modo independente, Mas por
exemplo, ao mesmo tempo em que está visualizando a forma do Budha em uma
prática (isto é, utilizando meios hábeis), você também deve ter o entendimento
do shuyata. A visualização deve ser entendida como reflexo no espelho- algo que
existe muito claramente e que ao mesmo tempo não existe. Esse é o entendimento
adequado de shuyata, praticando junto ao método hábil da compaixão. No
Varayana, essa é a forma adequada de pratica-lo.
Do livro “A Lua no Espelho, Uma
visão incomum da Prajna Paramita.” De S.Ema. Gyalwa Dokhampa. Editora Lúcida
Letra.