A mente não deve ser distraída pelos pensamentos do passado
ou do futuro; ela permanece no presente, tal como é, nela mesma, sem distração.
O iogue indiano
Tilopa dizia: “A mente atada pelas tensões se soltará sem nenhuma duvida se ela
relaxar.” Desde os tempos sem começo estamos atados pelos pensamentos; disso
resulta uma grande tensão. Na meditação, ela desfaz-se e ficamos à vontade. A
consciência do presente da mente repousada sobre si mesma deve ser desprovida
de toda contração.
Quando meditamos
dessa maneira, é possível que conheçamos inicialmente um curto período
desprovido de pensamentos. Contudo, os pensamentos logo surgem. Como somos
principiantes, talvez tenhamos a ideia de que não devessem existir pensamentos.
É um grande erro; devemos simplesmente permanecer vigilantes e não distraídos.
Gampopa, o
principal discípulo de Milarepa, dizia: “Todos os meditadores apreciam o estado
sem pensamentos; todavia, não podemos fechar a porta dos pensamentos, ficam
muito fatigados pelo esforço realizado.”
Os principiantes
têm geralmente a mente habitada por numerosos pensamentos. Comparamos
tradicionalmente esse estado a uma torrente que se precipita de um despenhadeiro.
Podemos então dizer: “Tenho tantos pensamentos que é inútil que eu continue.
Nunca conseguirei! É melhor que eu pare. Ah, sim! Se eu não tivesse
pensamentos, poderia dizer que medito; porém, no meu caso, não serve para
nada.”
Ao contrario, não
se deve parar de meditar; é natural que os principiantes encontrem essa
torrente de pensamentos.
Quando
perseveramos, ganhamos um certo hábito da meditação e, com a experiência,
nossos pensamentos tornam-se como um rio que corre lentamente na planície.
Enfim, nossa mente
pode permanecer sem pensamentos e tornar-se como um mar sem ondas.
Deve-se
compreender bem que é uma progressão, que um estado não sucede a um outro senão
após uma longa e regular prática da meditação.
O principiante não deve crer que
lhe é necessário, desde as primeiras sessões, instalar-se num estado de ausência
de pensamentos. Isso lhe seria impossível.
“Devo
absolutamente não ter pensamentos durante a meditação; nenhum pensamento deve
surgir em minha mente!” Tal abordagem não serve para nada. Devemos simplesmente
manter uma atitude de mente na qual consideramos que se pensamentos chegam, é
sem importância, se eles não se produzem, também é sem importância. O que
importa é permanecer não-distraído.
Do livro “Meditação Concelhos aos Principiantes” - Bokar
Rimpoche- Editora Shisil