terça-feira, 7 de abril de 2015

O Caminho Óctuplo ou O Caminho do Meio (part. 1)

       



 Certa ocasião, Buddha estava na Montanha dos Abutres junto à cidade de Rajagaha. Num bosque próximo, um monge de nome Sona estava entregue à meditação. Aplicava-se bastante, mas, não realizando a Iluminação e sentindo-se desnorteado, ao ver o Buddha e perguntou:

- Mestre, estou fazendo exercícios severíssimos. Dentre todos os discípulos, não há quem me iguale em zelo. Por que, então, não consigo realizar a Iluminação? Talvez seja melhor que eu volte para casa. Tenho bens que me permitem levar uma vida feliz. Não é melhor que eu abandone este caminho e volte ao mundo?

- Sona, antes de seres monge, eras um exímio harpista, não?

- Bem, eu tinha certa habilidade com esse instrumento.

- Então responda: quando as cordas da harpa estão muito tensas, obtém-se bom som?

- Não, mestre.

- Quando as cordas estão frouxas, obtém-se bom som?

- Também não, mestre.

- Então, como fazer para obter bom som?

- As cordas não devem estar nem tensas, nem frouxas demais.

- O mesmo se dá com a prática do Dharma, Sona. A aplicação demasiada traz inquietação à mente, e a despreocupação traz negligência. É necessário seguir o caminho do meio entre esses dois extremos.

  Desde então, Sona passou a exercitar-se segundo tais instruções, realizando, por fim, a iluminação.
 O Buddha, tendo experimentado esses dois extremos e reconhecendo a inutilidade deles, descobriu por experiência própria o Caminho do Meio que condensa o espirito da moral Budista, conhecido como Caminho Óctuplo, e consiste dos seguintes princípios:

       1. Palavra Correta
      2. Ação Correta                                                         
      3. Meio de Vida Correto
                                   (1.2.3.Conduta Ética: SILA) (Moralidade)
      4. Esforço Correto
      5. Atenção Correta                                                 
      6. Concentração Correta
                                   (4.5.6. Disciplina Mental: SAMADHI) (Meditação)
        7. Pensamento Correto                                          
      8. Compreensão Correta
                                    (7.8. Introspecção: PANNA) (Sabedoria)



As Quatro Nobres Verdades




As Quatro Nobres Verdades
      
         As quatro Nobres Verdades foram compreendidas pelo Buddha em sua iluminação. Para erradicar a ignorância, que é a fonte de todo o sofrimento, é necessário entender as Quatro Nobres Verdades, caminhar pelo Nobre Caminho Óctuplo e praticar as Seis Perfeições (Paramitas).
  
   As Quatro Nobres Verdades são:

         1. A Existência do Sofrimento
A vida está sujeita a todos os tipos de sofrimento, sendo os mais básicos o nascimento, envelhecimento, doença e morte. Ninguém está isento deles.

             2. A Existência da Causa do Sofrimento
A ignorância leva ao desejo e à ganancia, que, inevitavelmente, resultam em sofrimento. A ganancia produz renascimento, acompanhado de apego passional durante a vida, e é a ganancia por prazer, fama ou posses materiais que causam grande insatisfação com a vida.

               3. A Existência da Cessação do Sofrimento
A cessação do sofrimento vem da eliminação total da ignorância e do desapego à ganancia e aos desejos, alcançando um estado de suprema bem aventurança ou nirvana, onde todos os sofrimentos são extintos.

           4. A Caminho que leva à Cessação do Sofrimento

O caminho que leva à cessação do sofrimento é o Nobre Caminho óctuplo.

Sobre o Sofrimento

         


     O Buddha ensinou que uma grande parcela do sofrimento em nossas vidas é imposta por nós mesmos, criado pelos nossos próprios pensamentos e comportamentos, os quais são influenciados pelas habilidades dos nossos seis sentidos.
     Nossos desejos, por dinheiro, poder, fama, bens materiais, e nossas emoções, tais como a raiva, rancor e ciúme, são fontes de sofrimento causado pelo o apego a essas sensações.
   Nossa sociedade tem enfatizado consideravelmente beleza física, riqueza material e status. Nossa obsessão com as aparências e com o que as outras pessoas pensam a nosso respeito são também fontes de sofrimento.
     Portanto, o sofrimento está primeiramente associado com as ações da nossa mente. É a ignorância que nos faz tender às tentações, à vontade doente de ter ou ser e à ilusão. Como consequência, praticamos maus atos, causando diferentes combinações de sofrimento.

   Com a prática correta da meditação, com o estudo das Quatro Nobres Verdades e caminhando pelo Nobre Caminho Óctuplo, conseguimos vislumbrar maneiras efetivas e possíveis de eliminar todo o nosso sofrimento e, mais importante, de alcançar a libertação do ego, do ciclo de nascimento, doença e da morte.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

No Início da Noite e no Início do Dia



              
              Alguns conhecidos me pedem conselhos para ficarem mais centrados e calmos durante o dia. Na verdade eles querem que eu ensine alguma pratica milagrosa para serem mais felizes...
  Tudo que fazemos na vida é para sermos mais felizes, tudo. Bom, já que ser mais calmo e centrado ajuda a nos fazer mais feliz sugiro uma pequena pratica diária que ajuda muito.
  Essa pratica inicia na hora de dormir. Quando as luzes se apagam e o silêncio chega, crie o hábito de esperar o sono chegar fazer uma pequena revisão do dia que passou. Feche os olhos e analise as três melhores coisas que você fez, disse ou pensou, depois as três piores. Faça o voto de não cometer os mesmos erros novamente e apegue-se no sentimento bom que foi transmitido nas suas ações positivas, obviamente é muito mais fácil ter pensamentos bons antes de dormir se você teve atitudes boas durante o dia, deixe o sono vir naturalmente, durma feliz...
  Os primeiros minutos do dia são críticos para começar o dia de maneira positiva. Ao tocar o despertador pela manhã procure orientar os primeiros pensamentos para coisas boas. Isso será muito mais fácil se você dormiu com pensamentos bons. Se você segue alguma religião, faça uma pequena oração antes mesmo de abrir os olhos, ou apenas pense em coisas boas. Junto com seus pensamentos procure sorrir. Sorria para você mesmo, para o novo dia.
  Ao sair da cama, procure ficar em silêncio. Fique atento aos seus pensamentos orientando-os para coisas boas. Fale pouco. Se precisar falar, fale coisas boas, sorria para a pessoa com quem estiver conversando, mesmo se for pelo telefone. Carregue esse sentimento de paz durante o dia. Faça com que as pessoas ao seu redor se sintam felizes ao te encontrar. Não espere isso! Mas faça com que isso aconteça. Boa noite e bom dia!

O Caminho Espiritual

     


        De acordo com a tradição budista, o caminho espiritual é o processo de atravessar e superar a nossa confusão, de descobrir o estado desperto da mente. Quando este estado se encontra entulhado pelo ego e pela paranoia que o acompanha, assume o caráter de um instinto subliminar.  Dessa forma, não se trata de construir o estado desperto da mente, mas sim de queimar as confusões que o obstruem.

   No processo de consumir as confusões, descobrimos a iluminação. Se o processo fosse outro, o estado desperto da mente seria um produto dependente de causa e efeito e, assim, passível de dissolução. Tudo o que é criado, mais cedo ou mais tarde, tem de morrer. Se a iluminação fosse criada dessa maneira, haveria sempre a possibilidade de o ego reafirmar-se, provocando um retomo ao estado de confusão.

   A iluminação é permanente porque não a produzimos; apenas a descobrimos.      Na tradição budista, a analogia do Sol que surge por trás das nuvens é frequentemente empregada para explicar o descobrimento da iluminação. Na prática da meditação, removemos a confusão do ego a fim de vislumbrar o estado desperto. A ausência da ignorância, da sensação de opressão, da paranoia, descerra uma visão fantástica da vida. Descobrimos um modo diferente de ser.

Introdução do livro: ALÉM DO MATERIALISMO ESPRITUAL,  
            Chögyam Trungpa Rinpoche

Ação e Reação




   É incrível como tem pessoas que ficam reclamando da vida, que nada dá certo e sempre a culpa é de outra pessoa ou de alguma coisa...
  Todas as nossas ações, sejam mentais, verbais ou físicas, geram uma reação. Nada acontece por si só, tudo é fruto de uma ação. Seja ela sua ou de outra pessoa.Com isso estamos sofrendo o tempo todo com as reações das nossas ações e das pessoas ao nosso redor.
  Quando estamos atentos aos nossos pensamentos conseguimos analisar o que falamos e fazemos, com isso até conseguiremos, em alguns casos, prever o resultado das nossas ações. Para recebermos coisas boas temos que dar coisas boas.
   Na semana passada um amigo comentou comigo:
  “-Mas o que tenho visto Lama, é que bons pensamentos e boas atitudes não me levam a nada... O que me conforta é pensar que se bons pensamentos e boas atitudes me fazem passar por tudo que tenho passado imagina se me entregar aos maus!”
  Toda experiência que passamos é iniciada por uma ação, seja ela mental, verbal ou física, que foi feita no passado. Uma ação negativa só pode levar a um resultado negativo, e uma ação positiva só pode levar a um resultado positivo.
  Diríamos que Jesus teve essa ideia em mente quando Ele disse que uvas nunca nascem de espinhos, nem figos de urtigas. É importante sabermos que até os atos muito pequenos ou atos sem intenção podem disparar infinitos resultados no futuro.
  "Há três coisas que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida". Temos que ficar atentos ao que estamos fazendo, nossas atitudes nos dirão quem seremos.

ENTREVISTA COM UM MÉDICO TIBETANO: TULKU LOBSANG LAMA RINPOCHE





"Sou uma pessoa normal, penso o tempo todo. Mas tenho a mente treinada. Isso quer dizer que não sigo meus pensamentos. Eles vêm, mas não afetam nem minha mente, nem meu coração."

Quando um paciente chega para consulta, como o senhor sabe qual o problema?
R – Olhando como ele se move, sua postura, seu olhar. Não é necessário que fale nem explique o que se passa. Um doutor de medicina tibetana experiente sabe do que sofre o paciente a 10 m de distância.

Mas o senhor também verifica seus pulsos.
R – Assim obtenho a informação que necessito sobre a saúde do paciente. Com a leitura do ritmo dos pulsos é possível diagnosticar cerca de 95% das enfermidades, inclusive psicológicas. A informação dada por eles é precisa como um computador.
Para lê-los, é necessária muita experiência.

E depois, como realiza a cura?
R – Com as mãos, o olhar e preparados de plantas e minerais.

Segundo a medicina tibetana, qual é a origem das doenças?
R – Nossa ignorância.

Então, perdoe a minha, mas o que entender por ignorância?
R – Não saber que não sabe. Não ver com clareza. Quando vemos com clareza, não temos que pensar. Quando não vemos claramente, colocamos o pensamento para funcionar. E, quanto mais pensamos, mais ignorantes somos, mais confusão criamos.

Como posso ser menos ignorante?
R – Vou ensinar um método muito simples: praticando a compaixão. É a maneira mais fácil de reduzir os pensamentos. E o amor. Se amamos alguém de verdade, se não o queremos só para nós, aumentamos a compaixão.

Que problemas percebe no Ocidente?
R – O medo. O medo é o assassino do coração humano.

Por quê?
R – Porque, com medo, é impossível ser feliz e fazer felizes os outros.

Como enfrentar o medo?
R – Com aceitação. O medo é resistência ao desconhecido.

Como médico, em que parte do corpo vê mais problemas?
R – Na coluna, na parte baixa da coluna: as pessoas permanecem sentadas tempo demais na mesma posição. Com isso, se tornam rígidas demais.

Temos muitos problemas.
R: Acreditamos ter muitos problemas, mas, na realidade, nosso problema é que não os temos.

O que isso quer dizer?
R – Que nos acostumamos a ter nossas necessidades básicas satisfeitas, de modo que qualquer pequena contrariedade nos parece um problema. Então, ativamos a mente e começamos a dar voltas e mais voltas sem conseguir solucioná-la.

Alguma recomendação?
R – Se o problema tem solução, já não é um problema. Se não tem, também não.

E para o estresse?
R – Para evitá-lo, é melhor estar louco.
???
R – É uma piada. Mas não tão piada assim. Eu me refiro a ser ou parecer normal por fora e, por dentro, estar louco: é a melhor maneira de viver.

Que relação o senhor tem com sua mente?
R – Sou uma pessoa normal, penso o tempo todo. Mas tenho a mente treinada. Isso quer dizer que não sigo meus pensamentos. Eles vêm, mas não afetam nem minha mente, nem meu coração.

O senhor ri muito?
R – Quando alguém ri nos abre seu coração. Se você não abre seu coração, é impossível entender o humor. Quando rimos, tudo fica claro. Essa é a linguagem mais poderosa que nos conecta uns aos outros diretamente.

O senhor acaba de lançar um CD de mantras com base eletrônica, para o público ocidental.
R – A música, os mantras e a energia do corpo são a mesma coisa. Como o riso, a música é um grande canal para nos conectar com o outro. Por meio dela, podemos nos abrir e nos transformar: assim, usamos a música em nossa tradição.

O que gostaria de ser quando ficar mais velho?
R: Gostaria de estar preparado para a morte.

E mais nada?
R – O resto não importa. A morte é o mais importante da vida. Creio que já estou preparado. Mas, antes da morte, devemos nos ocupar da vida. Cada momento é único. Se damos sentido à nossa vida, chegamos à morte com paz interior.

Aqui vivemos de costas para a morte.
R: Vocês mantêm a morte em segredo. Até que chegará um dia em sua vida em que já não será um segredo: não será possível escondê-la.

E qual o sentido da vida?
R – A vida tem sentido e não tem. Depende de quem você é. Se você realmente vive sua vida, então a vida tem sentido. Todos têm vida, mas nem todos a vivem. Todos temos direito a sermos felizes, mas temos que exercer esse direito. Do contrário, a vida não tem sentido.

Progressão em 9 passos




Lama Trinle - 07 Fevereiro 2015.

A) Observação e reflexão sobre as coisas Exteriores

    1) (Bater o gongo) A Causalidade.
    Ex.: O fogo ascende o combustível; o rio corta os vales; o sol ilumina o dia e faz crescer as plantas. Todos os seres vivos têm por origem direta os seus pais etc.
- Um fenômeno somente pode ser produzido por causas apropriadas;
- Na ausência dessas causas, o fenômeno não se produz;
- Se não queremos que um fenômeno se produza, precisamos evitar suas causas.
É necessário saber integrar a compreensão das ideias e dos fatos para perceber suas implicações e aplicações.

  2) (A mão pega a xicara de agua para beber:) As experiências dependem do comportamento
- O comportamento é uma ação efetuada pelo corpo sobre o mundo material.
Ex.: Ir ao cinema; Ir comer no restaurante; Preparar sua própria refeição; Ir a outro lugar diferente daquele onde estamos;
- Sem o comportamento apropriado, não se tem a experiência associada.
- Se queremos que uma experiência se produza, precisamos aplicar o comportamento apropriado;
- Se queremos evitar que uma experiência se produza, precisamos evitar o comportamento correspondente;

B) Observação e reflexão sobre as coisas interiores
  3) A Existência é a realidade da mente.                                                                                   - O comportamento depende do funcionamento da mente:
- A mente não tem cor, não tem peso, nem dimensão, ainda assim, é real;
- Sem a mente o corpo não pode funcionar.

4)  Os elementos que compõem a mente e o seu funcionamento.
 1- Identificar:
a) As ideias, pensamentos, raciocínios;
b) A afetividade, os sentimentos, emoções: desejo, medo, generosidade, avareza, cólera, vaidade, bondade e compaixão;
c) A imaginação: a capacidade de criar imagens mentais; simulações de cenas que representam eventos de maneira realista ou fantasiosa.
 2- Considerar as suas interações
- Situações idênticas não produzem os mesmos efeitos;
- O seu funcionamento pode ser automático ou voluntário.

5) Porque a mente funciona da maneira que funciona

- Seu automatismo aparente provem da repetição do funcionamento habitual;
- Não obstante esse funcionamento da mente não é determinado seguindo o mesmo automatismo biológico como o corpo físico (como a respiração, a digestão etc);
- O funcionamento dos diferentes aspectos da mente é adquirido pela educação recebida da família, do meio social e de suas próprias experiências. 
Ex. A linguagem.
- É possível utilizar o que foi adquirido, mas não o que não foi (adquirido);
- Para dispor de uma capacidade é preciso adquiri-la;
- Quanto mais compreensão, mais capacidade e mais liberdade. Ex.: dirigir um carro; falar uma língua;
- A partir disso podemos destacar a importância de desenvolver uma melhor compreensão do funcionamento da mente e suas capacidades. 

C) A Compreensão e Transformação do Funcionamento da Mente

 6) Atenção e Discernimento vs. Fascinação
- Quando a atenção é fascinada por objetos materiais ou mentais a mente se identifica, se envolve e se submete. 
Ex.: a televisão; as ideias e cenários mentais imaginados;
 -A fascinação é a corrente que aprisiona a mente;
- A atenção e o discernimento são as chaves que o liberam dessa corrente;
- Flexibilizar a atenção, orientando-a voluntariamente sobre um suporte;
- Liberar a atenção fascinada de maneira passiva por um objeto, orientando-a de maneira voluntária para outro suporte.

7) Treinar na Concentração com Suporte
 A concentração é o que permite realizar um projeto ou um objetivo
- Um trabalho físico, como pintar uma sala ou preparar uma refeição;
- Um trabalho intelectual, como estudar uma língua, que é uma concentração sobre uma atividade analítica;
- A concentração é a continuidade da atenção sobre um suporte.

8) Treinamento na concentração focalizada, sem atividade conceitual
- Utilizar um objeto visual, como um objeto de pequeno tamanho, grande tamanho, próximo, afastado etc.
- Essa concentração é focalizada sobre o suporte sem a mínima distração.

9) Desenvolver a Lucidez
Expandir o campo da consciência percebendo que ela é o fundamento que pressupõe e inclui a capacidade de percepção e assim, da concentração.
- Com mais lucidez, todas as capacidades mentais funcionam melhor: a percepção, as simulações mentais, a reflexão e a qualidade do funcionamento afetivo.