"A
Primeira Nobre Verdade é conhecida como verdade de dukka. Originalmente, os verdadeiros significados de dukka são: “difícil de aguentar”, “insatisfatório”,
“imperfeito”, “frustrante” e “vazio”. A palavra dukka, entretanto, é frequentemente traduzida como sofrimento. Este conceito, chamado as “más
novas” do budismo, fez com que algumas pessoas erroneamente interpretassem o
budismo como pessimista e contra a vida. Mas a mensagem básica do Budha, ou a “boa
nova” do Dharma, é justamente que existe uma maneira de se libertar do
sofrimento. A mensagem do Dharma é inerentemente otimista; ela contém a promessa,
a possibilidade real, de um renascimento espiritual e do final do sofrimento –
a iluminação espiritual que transcende à morte, conhecida como Nirvana.
O Dharma de Budha não ensina que tudo é
sofrimento. O que o budismo diz é que a vida, por natureza, é difícil, cheia de
problemas e imperfeita. Para a maioria de nós, este fato da vida dificilmente é
uma novidade. Quem entre nós tem uma vida perfeita? É claro que todos nós gostaríamos
de viver uma vida maravilhosa o tempo todo. Mas não vai acontecer. Esta é a
natureza da vida, e esta é a Primeira Nobre Verdade. Do ponto de vista budista,
não se está fazendo um julgamento sobre as tristezas ou alegrias da vida, mas
apenas uma simples descrição, usando o senso comum. A verdade é que todos nós
vamos experimentar altos e baixos na vida, não importa quem sejamos. É parte do
passeio na montanha-russa. O budismo não é pessimista nem pessimista: é
realista.
Por um momento, vamos parar e pensar na
Primeira Nobre Verdade, a verdade de dukka,
do ponto de vista de Budha. Enquanto ele era uma criança e um jovem adulto,
esteve protegido dos fatos vida – da doença, da morte, da infelicidade e da
pobreza. No palácio de seu pai, totalmente abrigado contra a realidade,
aprendeu que sua riqueza, sua beleza, sua força física e seu poder o
protegeriam de qualquer dificuldade.
Entretanto, interiormente, o Budha sempre
deve ter sabido que o mundo estava cheio de sofrimento, por mais que seu pai
tentasse protegê-lo da realidade. É interessante notar que a mãe de Budha
morreu poucas semanas após o parto, e ele deve ter se perguntado sobre o que
acontecera com ela, mas estas perguntas nunca foram respondidas. Os psicólogos modernos
diriam que o Budha foi criado para negar a realidade. Nós todos sabemos que a
negação é o sistema de defesa que usamos como proteção quando a verdade nos
parece difícil demais de suportar. Quando amadureceu, o Budha não queria este
tipo de proteção contra a realidade. Ele percebeu que apesar de todas as suas
posses e todo o seu poder, em última instância não poderia evitar os problemas
da vida. Ninguém pode.
Como a maioria de nós o grande desafio do
Budha foi o seu apego aos valores materiais. Colocar esses valores em
perspectiva foi uma parte essencial de seu caminho para a liberdade, reconhecendo
os apegos residuais aos prazeres mundanos que porventura ainda existissem. Ele
precisava o obscurantismo da ilusão – ou seja, a sua própria negação- e ver a
realidade da existência condicionada, conhecida como Samsara, com todos os
defeitos a ela inerentes. Para todos nós, esta é uma parte essencial do caminho
da iluminação: Desperte seu inato Budha interior; rompa com os sistemas de
negação que existem em sua vida; veja através dos véus da ilusão, reconheça
quem e o que você realmente é, e descubra a verdade das coisas como realmente
são."
Do livro “O despertar do Buda Interior”
Lama Surya Das, pag. 91 e 92. Editora Rocco.
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